terça-feira, 15 de abril de 2014


''Com mais um caso, sobe para sete o número de presos mortos na Penitenciária de Pedrinhas''
Mais um detento foi encontrado morto no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís do Maranhão, na noite de segunda-feira (14). O homem, identificado como André Valber Mendes, de 26 anos, foi achado enforcado no Pavilhão Delta do CDP (Centro de Detenção Provisória) do presídio. A morte foi confirmada pela assessoria de imprensa do Goveno do Maranhão. Essa é a terceira morte desde sábado (12) no presídio. Ao todo, sete pessoas morreram no local em 2014. No Estado, já são dez presos mortos este ano.

O corpo de Wesley de Sousa Pereira, de 22 anos, foi achado enforcado com um lençol, no domingo (14), em uma cela desativada no Presídio São Luís I. No sábado, os guardas encontraram João Altair Oliveira Silva, de 18 anos, morto com várias perfurações pelo corpo no corredor do Bloco Alfa da CCPJ (Central de Custódia de Presos de Justiça ). 

A Sejap (Secretaria de Estado da Justiça e Administração Penitenciária) pediu a prorrogação, por mais 180 dias, do prazo da situação de emergência no sistema carcerário do Maranhão. A solicitação foi feita ao governo do Estado no dia 21 de março. A secretaria informou que precisa de mais tempo para a reformulação do sistema carcerário, pois, apesar das medidas tomadas nos últimos seis meses, vários problemas ainda precisam ser resolvidos.
                            
Ana Cristina Santos e Dulcineia Pinto Ribeiro não se conhecem. Em comum, somente o destino das duas mulheres todos os domingos: o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. A visita aos parentes que cumprem pena no presídio, onde 60 pessoas foram mortas no ano passado, é o dia mais esperado da semana.

Em conversa com a reportagem do R7, Ana Cristina, de 23 anos, procurou demonstrar otimismo com o futuro do namorado, que cumpre pena por assalto em Pedrinhas. Sem deixar de reconhecer o erro do companheiro, a jovem explicou que a rotina está longe de ser fácil, mas a iminência da libertação a faz visualizar um futuro promissor pela frente.

                             
— A gente tem muitos planos, ele já tem até um emprego em vista. Estamos felizes com essa nova vida que ele vai ter assim que sair de lá.

Enquanto o casamento está no horizonte de Ana Cristina, a empregada doméstica Dulcineia teme pelo futuro do filho, que está preso em Pedrinhas há quatro meses. Usuário de drogas, o rapaz acabou condenado a cinco anos e quatro meses de prisão por um assalto, cometido, de acordo com a mãe, para sustentar o vício.

Para ela, o cotidiano tem sido "muito difícil", sobretudo com as notícias de rebeliões e mortes no complexo — apenas em 2014, morreram três presos em Pedrinhas. Além do medo da violência, o tratamento dispensado aos presos adiciona sofrimento extra aos familiares.

                              
— Ele me diz que a comida é ruim e que ele sente como se estivessem dando comida para porco. Ele está preso, pagando pelo crime que ele cometeu e não passo a mão na cabeça dele. Ele errou e está lá, mas o que acho que deveria melhorar é o tratamento ao preso, que fica o dia todo fechado. Não tem nada para eles fazerem ali dentro. É terrível demais, só quem vive é que sabe como é.

Outro ponto em comum entre as duas mulheres é o sentimento na hora de ir ao complexo penitenciário e ao deixar a cadeia, passado o horário de visitas. Para Dulcineia, a falta de informações das autoridades e a ausência de uma perspectiva de melhora em Pedrinhas sempre a deixa tensa, temendo pelo pior.
 

 
— Quando chega o sábado, eu já fico ansiosa para chegar o domingo e eu poder ver o meu filho. Mas na volta, é um momento difícil porque eu saio e ele fica. Fico imaginando se amanhã terei notícia do meu filho vivo. Será que no próximo domingo vou ver o meu filho vivo? Será que vai acontecer alguma coisa? Peço para ele não responder nada para ninguém, que peça tudo por favor, seja educado, o melhor possível, ajudando todo mundo. É difícil, para quem está preso. Ali, é a lei do mais forte.
Outro desafio é lidar com o preconceito de quem que não acredita na recuperação de detentos nas prisões do País.
— Ontem mesmo eu estava conversando com uma pessoa que não sabe que eu tenho um filho preso. Aí ela disse: 'Ah, fulano diz que preso tem que ter direito e eu acho que não tem que ter direito algum, se estão lá é porque são bandidos'. Então eu disse: “É colega, eles estão lá porque são bandidos, mas são seres humanos como eu, você e qualquer pessoa”. Que atire a primeira pedra quem nunca errou. 
 
O Maranhão decretou situação de emergência em outubro do ano passado, após uma crise que começou com motins e rebeliões. A situação piorou com mortes violentas de presos que aconteceram dentro dos presídios.
                               
O governo do Estado informou ainda que duas novas penitenciárias serão inauguradas em maio, uma no município de Coroatá e outra, de segurança máxima, em São Luís. Com isso, sobe para 635 o número de vagas em presídios do Maranhão. 

R 7

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